Qualidade
A qualidade ouve-se
A qualidade em estúdio é importante, especialmente nos dias de hoje quando o consumidor final de música é tudo menos um audiófilo. A verdade é que a qualidade sonora passa sempre e é notória em qualquer sistema, seja nuns fones baratos ou, especialmente, num equipamento de escuta topo de gama. Quando falo em qualidade não me refiro apenas ao equipamento. A qualidade está também na acústica das salas, nos instrumentos e em todas as pessoas que estão envolvidas no processo de criação de música em si, desde o artista, compositor, letrista e músicos, passando pelos técnicos que gravam, editam e misturam, até ao técnico que masteriza.
Equipamento
No que toca ao equipamento e à sua qualidade, toda a cadeia de gravação é importante, os micros, os cabos, os pré-amps, os conversores, EQs, compressores, plug-ins, ou seja, tudo por onde passe e que processe o sinal áudio. Porque o sinal é importante e o objectivo mor é captar o som de forma fiel, o mais limpo possível e trabalhá-lo assim. Obviamente há excepções, a criatividade não tem regras e, por algum motivo, o pretendido pode ser um som “sujo”, mas mesmo esse “sujo” tem de ser captado e trabalhado com cuidado, caso contrário o “sujo” não passa apenas de um erro para o ouvido comum. Há pessoas que desesperam porque o valor de certos equipamentos é um absurdo. Percebo. O melhor equipamento por norma é o mais caro. Há tempos cruzei-me com um post (que infelizmente já não se encontra online, mas tinha feito copy&paste da resposta que se segue) de uma pessoa que dizia que não valia a pena gastar milhares de euros em equipamento se no final as pessoas vão escutar as tuas músicas nuns fones que custam pouco mais de um euro e não soam bem. O Dennis Leeflang comentou o seguinte (traduzido): Equipamento de estúdio barato + fones baratos = som horrível. Equipamento de estúdio de topo + fones baratos = som aceitável. Equipamento de estúdio barato + colunas/headfones de topo = som horrível. Equipamento de estúdio de topo + colunas/headfones de topo = experiência de escuta de topo. Por outras palavras: com o equipamento de estúdio certo, as coisas vão pelo menos soar aceitáveis, mesmo em fones merdosos. O argumento dos fones não faz sentido, e não é nada novo. Antes dos mp3, as pessoas ouviam produções multimilionárias em pequenos rádios que soavam pior que fones de um euro. E muitas pessoas gravavam de uma cassete para outra, degradando a qualidade do áudio até um ponto, possivelmente, mais baixo que dum mp3 dos dias de hoje. E a maioria dos headfones dos Walkman na década de 80 não eram nada melhor do que os fones de hoje. Se vais desistir por causa das pessoas usarem fones baratos e recorrer a equipamento de estúdio barato, mais vale desistir por completo.
O Dennis veio reforçar o que eu defendo, a qualidade consegue passar em qualquer sistema. O Vitor Hugo também diz o seguinte: “A Indústria musical gasta centenas de milhares de Euros para gravar a música da maneira que querem que ela seja ouvida. Em seguida, 99% de nós, ouvimos através de fones de plástico barato que vieram grátis com o nosso smartphone. O áudio é tudo o que existe quando é registado e quando se ouvir uma canção através de um amplificador de alta-fidelidade a reprodução é muito mais agradável.” – em http://www.vitorhugo.com/como-montar-um-estudio-de-som/
Eu quando trabalho em música e compro equipamento para o estúdio tenho em mente as pessoas que gastam o seu dinheiro em bom equipamento de escuta. Procuro oferecer boa qualidade aos artistas com os quais trabalho, para que os fãs que os acompanham possam ter gosto em ouvir os seus temas. Acho que dando a escolher a um ouvinte entre uma gravação de qualidade e outra mais caseira (por falta de melhor palavra), as pessoas vão escolher qualidade. Partindo do princípio que não se trata de uma regravação. Isto pode parecer um pouco confuso, mas os fãs têm a tendência de se apegar às músicas, mesmo quando “cruas”, justificando que as regravações não têm o mesmo feeling. Se tens uma versão de uma música com um som “comprimido de youtube” e te apresentarem a mesma música num formato com maior qualidade, decerto irás optar pela versão com melhor qualidade porque vais reparar em sons e pormenores que anteriormente não davas conta. O mesmo acontece com fones/colunas, se escutares nuns fones baratos e depois passares para um sistema com mais qualidade vais notar diferenças. Depende do consumidor final dar o devido valor à música, comprar bom equipamento de escuta e por consequência comprar música com qualidade, evitando downloads manhosos. Os artistas investem dinheiro em estúdio para vocês, para que tenham um produto de qualidade.
A qualidade paga-se
Isto é a minha opinião e não deve impedir ninguém de começar a trabalhar com o que tem à mão e/ou consegue adquirir. Eu comecei no meu quarto com um micro, uma placa de som e um PC. Há muita boa música feita com baixa qualidade, mas não deixa de ser boa música. Como disse no início, a qualidade não é só equipamento, a qualidade envolve pessoas e parte de cada um trazer o que de melhor tem para a “mesa”. No entanto, o equipamento não deixa de ter a sua importância e enquanto for técnico de som vou apostar na qualidade por duas razões, a que mencionei antes, a qualidade ouve-se em qualquer suporte, e porque a qualidade melhora o meu workflow. Se, por exemplo, trabalhar umas vozes gravadas numa sala com um tempo de reverberação longo, vou ter o dobro do trabalho para as colocar presentes e in your face. Quando uma voz/instrumento está bem captada, o meu trabalho é facilitado e o resultado final é sempre melhor e mais agradável. Há muito que me conformei que tenho que abrir os cordões à bolsa. O que é bom custa caro.