Pre-Produção
Em defesa da pré-produção
Entre os músicos autofinanciados, a pré-produção é sem dúvida o passo mais negligenciado do processo de gravação. Isto é lamentável, mas também é fácil de entender. A realidade é que muitos novos artistas passam ao lado deste passo, porque eles ainda não percebem o quanto ele é importante. Apesar de ser a parte menos dispendiosa do processo, e que oferece o melhor retorno sobre o investimento, a pré-produção também é a fase que exige mais experiência para executar bem. “Falhar em planear é planear para falhar”
Pré-Produção: O que e por quê
A pré-produção começa com um artista a escrever e/ou selecionando músicas. Muitas vezes, os artistas – mesmo os novos – fazem isto muito bem. Mas a pré-produção também implica filtrar estas músicas, aperfeiçoar tempos, arranjos e a estrutura antes de gravar a sério. É muito comum os novos artistas entrarem para o estúdio cheios de confiança, para descobrir que, sob o microscópio de uma bela gravação multipista, a linha de baixo e o bombo atrapalham-se um ao outro, a melodia soa ligeiramente estranha a um ritmo tão rápido, e a escala da canção está fora de alcance para o cantor. Músicos que vivem perto das principais áreas metropolitanas é improvável encontrar tempo de estúdio a uma taxa de menos de 30€ por hora, com técnico. Este não é o lugar para descobrir que as musicas ainda precisam de mais trabalho. Mesmo para os músicos com habilidade e que pretendem gravar-se a si mesmos, definindo estritamente uma fase de pré-produção é essencial para manter a dinâmica num projeto de gravação. Para aqueles que são mais ambiciosos, a fim de trabalhar com profissionais bem estabelecidos que gravaram músicas que conheces e admiras, que ajudaram outros músicos a criar álbuns que encontraram algum tipo de sucesso, as taxas muitas vezes começam mais perto 50€ – 80€ por hora, mesmo numa economia em recuperação como a nossa. Comparado a isto, uma boa pré-produção não custa quase nada. Na verdade, até pode ser grátis.
Pedir ajuda cedo no processo
Ironicamente, é durante a fase de pré-produção que o conselho de um produtor experiente e dedicado muitas vezes é o menos caro, e o mais valioso. O planeamento eficaz e a definição de metas nesta etapa significa economia de tempo e dinheiro a cada passo do caminho. Artistas que tentam cortar este canto na esperança de economizar tempo e dinheiro, inevitavelmente, acabam por gastar mais de ambos. Para muitas bandas novas autofinanciados, a primeira vez que alguém experiente entra na equação é quando eles finalmente entram em estúdio para gravar. Neste cenário, os primeiros ouvidos profissionais no projeto tendem a pertencer a quem por acaso é o engenheiro de casa, num qualquer estúdio de gravação, que tinha uma taxa que coubesse no orçamento da banda e parecia que tinha algum equipamento bom. Enquanto isso, produtores e artistas experientes sabem que as pessoas e ideias são a parte mais importante de qualquer projeto. Uma confluência de talento, habilidade e experiência é muito mais raro do que uma sala cheia de grandes brinquedos, e um bom plano é sempre melhor e mais rentável do que uma taxa horária menor. É por isso que tanto os planos, como as pessoas são uma mais-valia, talvez ainda mais essencial hoje, numa época em que o custo de uma básica gravação chegou ao valor mais baixo de todos os tempos.
Os 12 Passos para lançar um álbum (de forma inteligente)
Passo 1: Escrever um monte de músicas. Tocá-las. Constantemente. Gravar ensaios, gravar demos, ouvir criticamente, gravar um pouco mais.
Passo 2: Começa a construir uma plataforma para a tua música. Conecta-te com potenciais fãs, colaboradores e grandes artistas para abrires concertos. Continua a tocar as músicas, constantemente.
Passo 3: Começa a fazer pesquisa em relação a potenciais produtores e/ou técnicos de som. Pede recomendações de artistas/bandas cujas gravações gostas; Pesquisar na web e ouvir o trabalho dos produtores/técnicos; Ver os créditos e detalhes técnicos nos livretes dos teus lançamentos independentes preferidos; Faz um top 3 ou 4 produtores/técnicos e informa-te melhor em relação a essas escolhas. Reconhece que a plataforma deles se enquadra à tua plataforma.
Passo 4: Entra em contato com essas pessoas. Certifique-te que se dão bem, e que eles estão disponíveis e animados com o teu projeto. Descobre se eles estão dispostos a trabalhar dentro de um orçamento geral que seja viável para ti. Faz a tua escolha final sobre em relação ao produtor ou engenheiro, e envolve-o logo no início do processo. Convida-o a ouvir gravações de ensaio, a vir aos ensaios, aos concertos e a participar na seleção de canções e a definir estratégias. (Note-se que “estúdio” e “taxa” ainda não entrou na equação.)
Passo 5: Trabalha com o produtor, estabelece objetivos, a abordagem e timeline. Chegar a um orçamento que é viável para ti, e que te permita atingir os objetivos confortavelmente. Se tal for impossível, ajustar os objetivos. Começa a juntar dinheiro.
Passo 6: Agora que já estabeleceste o teu orçamento, a abordagem e objetivos, trabalha com o produtor ou engenheiro para ver que arranjos em estúdio fazem mais sentido para o projeto. Se o produtor/engenheiro é dono do seu próprio estúdio onde dê para trabalhar todo o projeto, ótimo. Se não, isso é ótimo também. Muitos grandes produtores não possuem estúdios que alberguem todas as fases do projeto, e muitos outros notáveis produtores não possuem um estúdio de todo. Mesmo que eles tenham, às vezes é divertido ou inspirador viajar. Colabora com eles e decide qual é o ambiente que faz mais sentido para o teu projeto e orçamento. Estabelece prazos e lembra-te de reservar tempo de estúdio com antecedência.
Passo 7: Continua a juntar dinheiro para estúdio. Separa o dinheiro do teu salário; Retira algum de uma poupança pré-existente; Pede dinheiro emprestado de amigos e familiares; Procura patrocinadores; cria uma campanha crowdfunding inteligente; Vende o plasma.
Passo 8: Com feedback do produtor, chega ao ponto em que os músicos tocam tão bem juntos, que se colocares um único micro no meio da sala, a gravação resultante valha a pena comprar. Grave o álbum todo de uma vez, rapidamente. Pode ser gravado numa sala de ensaio, ou num estúdio de gravação multipista barato. Essas gravações devem ser tão boas que os teus fãs mais entusiastas estariam ansioso para ouvi-las daqui a 10 anos, e que tu fiques tentado a lança-lo como está, agora mesmo. Rever essas demos de pré-produção, tomar notas e fazer alterações onde necessário. Considera retirar músicas neste momento, ou a adicionar novas.
Passo 9: Gravar o álbum usando a guia que tu e o produtor criaram. Para para cheirar as flores quando apropriado.
Passo 10: Mistura. Prepara te para remover pelo menos 2 músicas quando terminar. Talvez mais. A edição é onde está arte, e lembra-te que podes lançar raridades e lados-B, assim que tiveres um grupo de fãs dedicados. Nada de peso morto nesta fase.
Passo 11: Masterizar o disco, procurar uma equipa de promoção e chegar a uma estratégia de lançamento. Verifica se o produtor ouve e aprova o trabalho de masterização. Uma vez aprovado, podes anunciar a data de lançamento oficial. Nunca faças isto antes!
Passo 12-A): Lançar teasers e campanha promocional;
Passo 12-B): Lançamento do álbum.
Passo 12-C): Ensaiar e dar concertos. Constantemente. Não é mais simples que isto.
Advertências e preocupações
Naturalmente, há algumas variações sobre este tema. Podes ser um artista mais experiente. Por vezes, o produtor é um membro da banda. Às vezes, a timeline contrai a às vezes expande. Às vezes, o lançamento é de um single ou um EP, em vez de um álbum. E mesmo que o processo de pré-produção de uma banda jazz ou EDM seja um pouco diferente, no fundo, aplicam-se os mesmos conceitos básicos. Também é verdade que há artistas bruto-e-pronto como Pavement, Guided By Voices e The Moldy Peaches que encontraram algum sucesso lançando gravações que soam pouco melhor do que demos em cassete. Estas são excepções significativas, mas se esta é a tua estética, fica à vontade para jogar com regras diferentes. Da mesma forma, há artistas e compositores que encontraram algum sucesso lançando as suas músicas à medida que as escrevem. Se este é o teu mercado, e lançar canções com tópicos correntes e de forma rápida é o teu objectivo, então siga. Mas se as tuas ambições são maiores, e a tua aspiração é lançar musicas que são tão boas quanto podem ser, então a pré-produção cuidada é essencial. A alternativa – discutir sobre um álbum durante meses e meses depois de teres gravado o básico – é significativamente mais susceptível de conduzir a um excesso de produção, inchaço orçamental, e músicas que perderam a pica muito antes de estarem acabadas. Isto leva-nos a outra das ironias que envolve a pré-produção: Começar a planear e avaliar no início tende a levar a álbuns que soam mais frescos, mais envolventes e menos sobrecarregados quando estão prontos. Quando álbuns bem planeados terminam, há mais dinheiro de sobra e menos desgaste para os músicos envolvidos. Isto é crucial, porque terminar um disco não deve ser o fim da linha. Para um artista/banda inteligente que faz planos com o futuro em, é apenas o começo de uma nova fase.