Album, vale a pena?
Este debate não é novo. O álbum tem vindo a esmorecer ao longo dos anos.
Eu acho que o álbum é importante para portefólio/discografia. Para marcar uma fase.
Porque em tempos o álbum era isso, o colecionar de vivências/música ao longo de um determinado período. O artista estava um ano a compor, estava umas semanas em estúdio e ficava ali gravado aquele ano de composições. E voltava se a repetir tudo de novo. Com o tempo até conseguias sentir a metamorfose do artista através dos vários registos discográficos.
Na minha adolescência todos sacávamos música
Estou a falar de 2005, só para situar – eu sacava um álbum e consumia durante semanas, até eu descobrir ou alguém me mostrar algo novo. Mas já reparava numa tendência com os meus colegas. Eles sacavam o álbum, escolhiam as que gostavam mais e apagavam o resto. Para mim era uma blasfémia. Um desrespeito. Não percebia como a malta conseguia fazer uma cena dessas. Pegar na Guernica, recortar as partes que gosta mais e deitar o resto fora. Olhando agora para trás, percebo que era o início das playlists.
Em 2019 não há tempo para ouvir álbuns (talvez porque estou mais velho e já não há viagens de ida-e-volta para a escola). Tendo em conta que todos os dias saem singles e pelo menos um álbum novo por semana de artistas que gostamos. É quase impossível. E com as novas plataformas para ouvir música, consumir um álbum já não faz muito sentido. Eu sei que há por aí puristas que fazem questão de ouvir o album. Eu também o faço quando são artistas que admiro.
Mudar com os tempos é fundamental
Isto para dizer que adorei a estratégia do Sam. No caso da Mechelas é uma compilação, acaba por ser um artista novo a cada ‘x’ tempo. São singles. No fim compila-se tudo. Faz sentido.
Não sei se ele tinha anunciado antemão que ia ser uma compilação. Eu ia escutando os temas e pensava que era uma espécie de rubrica da TV Chelas. Quando ele lança o último tema e a compilação achei brutal.
Agora, eu acho que isto adaptado a album também é uma solução. Não estou a descobrir a pólvora, isto já anda a ser feito.
O álbum é-te entregue aos poucos e acabas por ouvi-lo todo. Em vez de tirares 40min da tua vida para ouvir um álbum que nem sabes se vais curtir.
Esta estratégia pode não funcionar com álbuns conceptuais
Quando há um fio condutor ou uma história a contar. Ou então pode funcionar. Vais recebendo as peças do puzzle e no fim, ao ouvir o conjunto é te revelado a Big Picture. Acaba por depender do conceito.
Acho que esta forma de lançar projectos é o melhor. O artista consegue rentabilizar o tempo do ouvinte. Não há um grande espaço de espera entre novas músicas. Dá tempo do ouvinte curtir aquele tema até vir o próximo e no final compila-se o álbum para o aficionado/colecionador.
‘Pera que não é bem assim
Já tinha este artigo escrito. Em conversa com um road manager ele falou no album de uma perspectiva que não me tinha ocorrido. O album que se toca ao vivo. O album que é preciso para novos artistas, para ter reportório, para actuar.
É preciso ter uma hora e meia de música. É preciso ter uma hora e meia de singles para ter o publico a cantar em êxtase do inicio ao fim.
Esta conversa já tinha sido à uns meses e então pedi para ele me relembrar da importância do album. Vou deixar aqui a resposta dele:
“Não é só para novos artistas, é para os artistas.
Quando lanças um bom album, com um single, se o album for mesmo bom, o publico ainda escolhe mais três ou quatro singles. Com dois ou três bons álbuns consegues fazer uma hora e meia de espectáculo com êxitos.
Esta nova forma de lançar as coisas não está má, ela funciona. Mas, o que tenho reparado é que sai um artista novo, lança dois singles e ele já está feito e eu pergunto ‘com dois singles fazes o quê?’ Não consegues vir para a estrada, ninguém te compra dez minutos de espectáculo. Pode ser que um dia mude, por agora ainda não.
A questão agora é esta, quando te estás a fazer, quando ainda estás a crescer, quando ainda não tens o teu publico, eu acho que o album faz todo o sentido. Depois de já ter o reportório feito e que há êxitos, faz sentido lançar um ou dois singles por ano. Da hora e meia de espectáculo tiras dois singles e metes dois novos singles.
“God save the album“”